sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Contando, ninguém acredita!

Essa eu preciso contar para vocês, porque foi simplesmente surreal...

Semana passada, fiquei a semana inteira em um treinamento do Grupo, realizado na EM Lyon, uma universidade super conhecida aqui, e que fica a 5 minutos do escritorio. Pois bem, como fica super perto do trabalho, todos os dias eu estacionava o carro no escritorio e ia para o curso a pé. No fim do dia, voltava e pegava o carro no estacionamento, é claro.

Pois bem. Na sexta-feira, ultimo dia do curso, fiz a mesma coisa. Deixei o carro no estacionamento do Grupo, peguei meu computador que estava no porta-malas e fui para a EM Lyon.

La pelas 9h30 da manhã, quando tivemos a primeira pausa do curso, aproveitei para dar uma olhadinha nos meus e-mails. E dai tinha um e-mail da menina da recepção para todos os funcionarios da empresa dizendo que um carro cinza, de placa “tal”, estacionado no Grupo, estava com o porta-malas aberto. E eu pensando: “ai, mas quem foi a anta que deixou o porta-malas aberto?”

Dai quando prestei mais atenção na placa, me toquei que a anta era euzinha aqui. Simplesmente não fechei o porta-malas do carro quando peguei meu computador, apenas sai andando e deixei o porta-malas la, aberto. Ou melhor, abertinho da Silva, escancarado mesmo... Ainda bem que não estava chovendo!

Ja vi muita gente estacionar o carro e esquecer de tranca-lo (eu mesma sempre fico em duvida se fechei o carro ou não), mas a pessoa precisa ser muito descabeçada mesmo para largar o porta-malas do carro aberto...

domingo, 26 de outubro de 2008

Do blog para o Jô!

Era uma vez uma estrangeira que veio morar na França. Ela decidiu começar a escrever um blog, para contar aos seus amigos e compatriotas sua visão sobre a vida na França, sobre os franceses, sobre as diferenças culturais e tal.

Podem parar de pensar que estou falando de mim. Esta pessoa não sou eu.

Trata-se de uma inglesa, que foi morar em Paris, e começou seu blog em 2004.
De crônicas sobre sua vida na França, seu blog evoluiu para algo mais pessoal, onde ela começou a escrever realmente sobre sua vida, seus sentimentos, suas relações, sua filha.

E este blog muda radicalmente sua vida.

Para começar, ela termina sua relação com o pai da sua filha depois de “conhecer” um cara que deixou um comentario no seu blog (adorei isso!).

Depois, um belo dia seu chefe (ela era secretaria) descobre que ela escrevia um blog e simplesmente a manda embora por causa disto (um babaca em sua maxima potência!).

Sem chão e sem emprego, de alguma forma ela acabou dando uma entrevista para um jornal sobre esta situação e, do dia para a noite, sua historia ficou mundialmente conhecida, indo parar até na homepage do site CNN.com.

E dai, ela ficou famosa, apareceu em varias reportagens de jornais e revistas, escreveu um livro que foi lançado em varios paises, continuou escrevendo seu blog (que ja coleciona mais de 25 mil comentarios) e deu uma bela de uma “banana” para o ex-chefe. Que, por sinal, deve se arrepender até hoje do dia em que nasceu.

Essa historia é real e eu a descobri por acaso, navegando na Internet. Para quem estiver curioso, o site do blog é
http://www.petiteanglaise.com e la tem toda a historia, inclusive mais informações sobre o livro e a autora.

Eu achei esta historia genial! Do nada, um blog sobre a vida na França faz a autora conhecer o amor da vida dela, ser mandada embora de um emprego não muito interessante, escrever um livro, ficar famosa e ganhar muito dinheiro!

Dai ja comecei a viajar na maionese pensando que um dia eu também posso ficar famosa com meu blog e escrever um livro. Viagem total, é claro, ja que nem de longe este blog pode interessar a um editor, mas como dizem por ai, sonhar grande ou sonhar pequeno custam a mesma coisa, não é? Pois é, e eu ja estou até imaginando a minha entrevista no Jô Soares. Ok, eu sei que o Jô não deixa seus entrevistados falarem, mas diz ai, quem é que, assistindo ao programa do Jô, nunca se imaginou sendo entrevistado por ele?

Visita!!!

Minha amiga Lea, que veio passar férias em Paris (que chique!), veio me visitar dois fins de semana atras, com mais duas amigas.

Foi a primeira visita brasileira que recebi no apartamento, e espero que seja a primeira de muitas!
O fim de semana foi muito bom. Para começar, a Lea é super pé-quente! Estava fazendo um tempo horrivel durante a semana, chovendo e frio, mas foi so ela botar o pé em Lyon que fez o maior solão o fim de semana inteiro. Assim, pudemos passear bastante, ver muitos lugares turisticos, comer coisas tipicas (mas nem tanto, né Lea, rsrs) e até fazer uma baladinha!
Vão ai umas fotinhos do nosso “week-end sur Lyon”.



Nos teatros romanos (do ladinho da minha casa)







Quem disse que em Lyon não tem Torre Eiffel?



Vista para o cais do Rhône, meu lugar preferido na cidade!




Baladinha no pub irlandês



A Lea na descida da Croix-Rousse



O Paul Bocuse e eu! (rsrs)



A Lea achou o carro perfeito para ela!


O cliente é o rei

Descobri que a noção de que o cliente tem sempre razão não é uma noção universal. Pelo menos aqui na França, ela simplesmente não existe.

Outro dia entrei em uma loja de moveis/decoração, porque precisava comprar uma capa para uma poltrona que tenho na sala (que é verde e não combina com nada). Eu tinha visto a tal da capa no catalogo desta loja, por isso fui la. Pois bem. Eu entro na loja e não vejo nenhum vendedor. Dirijo-me ao caixa, onde ha uma moça:

- Bonjour - digo eu, muito educadamente. Você sabe onde ha um vendedor que possa me atender?

- Por ai - responde a moça, sem nem me olhar na cara.

- Por ai onde, não estou vendo ninguém - respondo eu, incrédula.

- Procura por ai que você acha.

Ok. Contei até três na minha cabeça e sai em busca de um vendedor. Em um dos corredores da loja, cruzo com uma vendedora, que parecia bem ocupada carregando uma caixa, mas como foi a unica que eu vi, perguntei se ela podia me ajudar. Bufando, ela me respondeu que sim.

- Por favor, onde é que eu posso encontrar esta capa de poltrona? - pergunto eu, mostrando no proprio catalogo da loja a capa que eu tinha visto.

- Nos não vendemos apenas a capa, somente a capa junto com a poltrona.

- Hã???? Mas eu vi no catalogo, tem dois preços, um para a poltrona, e um para a capa, que alias, esta disponivel em varias cores. Se ha dois preços, quer dizer que eu posso comprar separado, não?

- NÃO - me respondeu muito grosseiramente. Você tem que comprar a poltrona também.

- Mas eu ja tenho a poltrona, so preciso da capa mesmo – tento explicar calmamente à anta que estava diante de mim.

- Talvez haja uma capa “sobrando” ai pela loja, passa outro dia que eu vejo.

E eu pensando: “como assim, passa outro dia”?

- Ok, otimo, mas outro dia quando?

- Não sei, outro dia! Passa outro dia que a gente vê.

Visivelmente a vendedora queria apenas se livrar de mim.

Dai foi a minha vez de bufar e simplesmente sair da loja quase gritando para as minhas amigas que o nivel de atendimento daquela loja era péssimo, e que isto era inadmissivel, até porque a loja era super cara e tal. E que eu não entendia como é que as pessoas conseguiam suportar este nivel de atendimento aqui. E que no pais de onde eu venho, dito “subdesenvolvido”, o nivel de atendimento é muito melhor e tal... Enfim, acho que fiz um discurso de uma meia hora, tão revoltada estava... E o pior foi as minhas amigas me dizendo que “na França é assim mesmo...”.

Também ja aconteceu de estar num restaurante e ver que alguém na mesa ao lado reclamou com o garçom porque a comida estava demorando. E o garçom simplesmente responde: “Não posso fazer nada, eu sou um so!”. Tipo assim, “se não estiver contente, vai embora”.

E claro que ja fui mal atendida em muitos lugares em SP, mas na maioria das vezes, as pessoas nas lojas/restaurantes não te tratam assim, pelo simples motivo de que se o fizerem, podem perder o emprego. Parece-me que no Brasil as pessoas têm mais esta noção de que quem paga o salario delas são os clientes/consumidores (ok, com exceção das companhias de telefonia fixa e movel, um real benchmarking no que se refere a como irritar um cliente). Aqui, os vendedores não estão nem ai para você. Parece, alias, que são eles que estão te fazendo um favor de te atender...

Enfim, como disse o autor inglês Stephen Clark: “na França, o cliente é sempre o rei. Mas a gente sabe bem o que os franceses fazem com seus reis”.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Para quem diz que o francês é uma lingua romântica

Nada como viver em um pais para aprender bem o idioma… Mas a julgar pelas expressões/provérbios que estou aprendendo aqui, não sei se posso dizer que meu francês estara mais “rebuscado” quando eu voltar. Segue uma pequena compilação com suas traduções e explicações:
  • Fais du bien à un vilain, il te chie dans la main -> Tradução : «faça o bem a um vilão e ele cagara na sua mão ». Profundo isso...
  • Une femme qui rit, bientôt dans ton lit -> Tradução: «uma mulher que ri, meio caminho andado para a sua cama ». Tenho que concordar com isso. Meninos, atenção: bom humor é fundamental e a maioria das mulheres gostam de homens que as fazem rir... é so uma dica!
  • Chacun sa merde -> Tradução: “cada um com a sua merda”. Essa, eu adoro. De verdade. E a versão francesa de “cada um com seus problemas”, mas um pouquinho mais fina e sofisticada.
  • Ca coûte la peau du cul -> Tradução: “isto custa a pele da bunda”. E a versão (muito elegante, por sinal) francesa de “custar os olhos da cara”, se bem que eles também têm uma versão exatamente igual aos “olhos da cara”: “ça coûte les yeux de la tête”.

Bom, por enquanto é isto. Tem mais um monte de expressões que me ensinaram, mas como eu não anotei, ja esqueci... Conforme eu for lembrando, vou guardando para fazer uma segunda compilação aqui... Aguardem!

domingo, 5 de outubro de 2008

Baila conmigo

Dai que a pessoa aqui, cujo nivel de ginga, de graça e de molejo é igual ao de um cabo de vassoura (e talvez até um pouco inferior), saiu ai do Brasil e resolveu fazer um curso de salsa na França.

Pequeno historico para explicar o fato: eu nunca gostei de praticar esporte. Nenhum. Sempre fui a pessoa mais desajeitada para todo e qualquer tipo de esporte. Nos tempos de ginasio, eu era sempre uma das ultimas a serem escolhidas para os times na Educação Fisica, quer o jogo fosse futebol, vôlei, hand, basquete ou mesmo corrida de saco (alias, uma vez inventaram de me colocar numa competição inter-classes e a minha unica tarefa era participar de uma corrida de saco. Eu não conseguia dar dois pulos dentro daquele treco sem cair de quatro no chão e, ao final da prova, não apenas fui a ultima, como sai com meus dois joelhinhos lindos quase em carne viva de tão ralados... E por isso que eu digo que esporte faz mal para a saude...). Sou daquele tipo CDF, cuja unica nota vermelha em toda a vida foi justamente em Educação Fisica, quando o professor se injuriou porque eu faltava em todas as aulas, mas estava sempre la na quadra assistindo ao campeonato masculino de futebol (minha paixão por futebol vem desde cedo, e pelos meninos que o jogam também...).

Alias, eu sinceramente gostaria de me lembrar exatamente quando foi que “não gostar de praticar esporte” virou crime. Porque ja faz um tempo em que, mesmo sendo uma pessoa honesta e de bem, me sinto uma criminosa quando alguém me pergunta se eu faço algum esporte e eu respondo que não. Não pratico nenhum esporte e não tenho a minima vontade de praticar, a não ser que levantamento de copo e espreguiçamento tenham entrado para o rol de esportes olimpicos. Abre parênteses: não entendo porque “não praticar esporte” é considerado uma anormalidade, enquanto “não gostar de ler” é considerado até normal e as pessoas confessam isso sem nenhuma vergonha... Tem alguma coisa errada nesse mundo... Fecha parênteses.

Enfim, mas uma coisa que eu sempre tive vontade de fazer foi aprender a dançar. Sempre achei lindo quem dança bem e sempre quis aprender, mesmo achando que eu definitivamente não nasci para isto. Junte-se a isto o fato de que eu odeio esporte, mas sei que eu preciso começar a mexer um pouco meu corpitcho, visto a quantidade estratosférica de queijo, vinho, foie gras e fondant au chocolat que estou consumindo aqui, decidi entrar num curso de dança.

Dai que a pessoa aqui se empolgou e, junto com mais duas amigas, decidiu fazer aulas de salsa e de jazz... E me empolguei tanto que ja paguei o ano inteiro, então não posso mesmo desistir...

Ja fiz três aulas de salsa até agora, que foram muito legais. De vez em quando me perco um pouco, sobretudo quando o professor inventa de fazer a gente mexer as pernas e os braços ao mesmo tempo, dai é perna pra um lado, braço pro outro e, quando vejo, estou fazendo tudo ao contrario do resto do pessoal... Mas nem tudo esta perdido, entre as quarenta pessoas que fazem a aula, tem gente que consegue ser pior do que eu, então ta tudo certo.

Mas o pior foram as três bonitinhas aqui (Sandrine, Laetitia – nova estagiaria do departamento – e eu) que, apos terem feito apenas três aulas, decidiram ontem ir a uma noitada de salsa numa balada. Foi so chegar la para nos darmos conta de que vamos precisar de mais um ano de aula para começar a não passar vergonha num lugar desses... Mas foi bacana mesmo assim. E o tipo do lugar onde todo mundo vai so para dançar mesmo. Dai que os caras vinham, nos convidavam para dançar e a gente dizia que não sabia, que ainda estava aprendendo. Mas eles eram gentis, dançavam com a gente mesmo assim e nos ensinavam uns passinhos novos... Dancei até merengue e bachata (uma dança sobre a qual nunca tinha ouvido falar).

Quanto ao jazz, entrei na aula mais para acompanhar as duas meninas que estão fazendo salsa comigo também. Na minha cabeça, jazz era uma coisa meio fora de moda, que a gente dançava usando polainas nos anos oitenta. Lembro de ter feito seis meses de jazz quando tinha uns dez anos e, na época, a musica que estavamos dançando era aquela do filme Flashdance: “What a feeling, bein's believing, I can't have it all, now I'm dancing for my life”. Alias, dêem uma olhada neste video para um momento nostalgia e para me imaginar ridicula deste jeito daqui a alguns meses:
http://www.youtube.com/watch?v=Jcp7v0uoybc.

Enfim, mas a aula de jazz até que foi bem legal também. E mais dificil e mais “fisico” do que a salsa, tem uma meia hora de alongamento e aquecimento que cansam pra caramba. Depois a gente fica fazendo umas coreografias, e é claro que é um pouco dificil conciliar movimento de braços, pernas e cabeça, fora o fato de que não entendo tudo o que a professora fala (imaginem a cena), mas eu chego la. A unica coisa que esta absolutamente fora de questão é participar de algum espetaculo de fim de ano. A gente nem sabe ainda se tem um espetaculo ou não, mas eu tô fora! Fazer jazz para mexer um pouquinho o corpo e dançar um pouquinho, tudo bem. Mas pagar o micão de participar de um espetaculo de fim de ano, não vai rolar. O pessoal do trabalho ja esta rindo muito de nos três, dizendo que vão assistir nossa apresentação e tudo. Ah, ta... Podem esperar sentados...