Descobri que a noção de que o cliente tem sempre razão não é uma noção universal. Pelo menos aqui na França, ela simplesmente não existe.
Outro dia entrei em uma loja de moveis/decoração, porque precisava comprar uma capa para uma poltrona que tenho na sala (que é verde e não combina com nada). Eu tinha visto a tal da capa no catalogo desta loja, por isso fui la. Pois bem. Eu entro na loja e não vejo nenhum vendedor. Dirijo-me ao caixa, onde ha uma moça:
- Bonjour - digo eu, muito educadamente. Você sabe onde ha um vendedor que possa me atender?
- Por ai - responde a moça, sem nem me olhar na cara.
- Por ai onde, não estou vendo ninguém - respondo eu, incrédula.
- Procura por ai que você acha.
Ok. Contei até três na minha cabeça e sai em busca de um vendedor. Em um dos corredores da loja, cruzo com uma vendedora, que parecia bem ocupada carregando uma caixa, mas como foi a unica que eu vi, perguntei se ela podia me ajudar. Bufando, ela me respondeu que sim.
- Por favor, onde é que eu posso encontrar esta capa de poltrona? - pergunto eu, mostrando no proprio catalogo da loja a capa que eu tinha visto.
- Nos não vendemos apenas a capa, somente a capa junto com a poltrona.
- Hã???? Mas eu vi no catalogo, tem dois preços, um para a poltrona, e um para a capa, que alias, esta disponivel em varias cores. Se ha dois preços, quer dizer que eu posso comprar separado, não?
- NÃO - me respondeu muito grosseiramente. Você tem que comprar a poltrona também.
- Mas eu ja tenho a poltrona, so preciso da capa mesmo – tento explicar calmamente à anta que estava diante de mim.
- Talvez haja uma capa “sobrando” ai pela loja, passa outro dia que eu vejo.
E eu pensando: “como assim, passa outro dia”?
- Ok, otimo, mas outro dia quando?
- Não sei, outro dia! Passa outro dia que a gente vê.
Visivelmente a vendedora queria apenas se livrar de mim.
Dai foi a minha vez de bufar e simplesmente sair da loja quase gritando para as minhas amigas que o nivel de atendimento daquela loja era péssimo, e que isto era inadmissivel, até porque a loja era super cara e tal. E que eu não entendia como é que as pessoas conseguiam suportar este nivel de atendimento aqui. E que no pais de onde eu venho, dito “subdesenvolvido”, o nivel de atendimento é muito melhor e tal... Enfim, acho que fiz um discurso de uma meia hora, tão revoltada estava... E o pior foi as minhas amigas me dizendo que “na França é assim mesmo...”.
Também ja aconteceu de estar num restaurante e ver que alguém na mesa ao lado reclamou com o garçom porque a comida estava demorando. E o garçom simplesmente responde: “Não posso fazer nada, eu sou um so!”. Tipo assim, “se não estiver contente, vai embora”.
E claro que ja fui mal atendida em muitos lugares em SP, mas na maioria das vezes, as pessoas nas lojas/restaurantes não te tratam assim, pelo simples motivo de que se o fizerem, podem perder o emprego. Parece-me que no Brasil as pessoas têm mais esta noção de que quem paga o salario delas são os clientes/consumidores (ok, com exceção das companhias de telefonia fixa e movel, um real benchmarking no que se refere a como irritar um cliente). Aqui, os vendedores não estão nem ai para você. Parece, alias, que são eles que estão te fazendo um favor de te atender...
Enfim, como disse o autor inglês Stephen Clark: “na França, o cliente é sempre o rei. Mas a gente sabe bem o que os franceses fazem com seus reis”.
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Há 5 meses
5 comentários:
Rachel, fico feliz! alguem esta sofrendo igual que eu na Venezuela...e sabe, acho que aqui é pior ainda que na França (coisa que achava impossivel!). Continuamos na luta amiga do atendimento...bisous
Sophiezita!
Com certeza lembrei muito de vc e das suas historias de péssimo atendimento na Venezuela... Mas vamos la, amiga, a gente vai sobreviver, rsrs.
Bisous
a simpatia francesa não tem limite né?! ja passei por varias dessas...
bj
Kel
O novo post demorou para vir, mas valeu a espera!
Adorei!! Vou até usar como case nos meus próximos treinamentos sobre atendimento ao cliente! rsrs
Mas sabe que em SP o atendimento é excelente... mas no resto do Brasil não é lá essas coisas, não... em Brasília as pessoas ainda não têm noção sobre quem paga os salários delas... e eu que trabalho em hotel há anos, pode imaginar o tamanho do meu sofrimento... mesmo pq se eu reclamar para o garçom que a comida está demorando é capaz dele cuspir no meu prato!! hahahahahahaha
Oi Pati,
Pois é, o post demorou pq andei meio atribulada...
Ja sobre os seus treinamentos sobre atendimento ao cliente, tenho um montão de historias e de exemplos (de mau atendimento, é claro) para contar...
Por exemplo, quando minhas colegas e eu estavamos procurando uma escola de dança, ligamos para varias para saber os preços, horarios, etc. Dai, teve uma para a qual ligamos onde o cara simplesmente não sabia nos informar qual seria o preço se fizessemos salsa e jazz... Ligamos uma vez, ele pediu para ligar no dia seguinte. No dia seguinte ligamos e ele disse que ainda não tinha checado, mas pediu para ligarmos na outra semana. Quando enfim ligamos mais uma vez, ele disse que tinha "esquecido" de perguntar para quem de direito... Moral da historia: desistimos de la, pq o cara simplesmente não estava nem ai! E ele perdeu 3 potenciais clientes...
Agora, sobre esta historia de cuspir no prato, espero que seja algo "brasileiro", pq do jeito que a comida demora às vezes aqui e a gente sempre reclama, rsrs.
Beijos
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