terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Dr. House - Parte I

Ha mais ou menos uns 3 meses, bem na época em que começou a esfriar pra valer por aqui, comecei a sentir que as minhas palpebras estavam um pouco ressecadas. Obviamente, achei que fosse por conta do frio.

So que o negocio continuou e foi piorando. As palpebras começaram a coçar, a descascar e, algumas vezes, a inchar também. Oh, oh, acho que isso não é bom sinal! Mas fui deixando passar, até porque não tinha ainda o meu numero da Sécurité Sociale (o sistema de saude publico daqui). E também porque meu corpo começou a manifestar um monte de coisas estranhas desde que me mudei para ca, então achei que fosse mais um destes sintomas de “brasilianite aguda” que fosse passar logo.

Dai que, quando voltei para o Brasil no fim do ano, o negocio ficou feio. Um belo domingo de manhã acordei com as palpebras tão inchadas que decidi ir ao pronto-socorro ver o que era (até para aproveitar os ultimos dias de convênio no Brasil, que so era valido até três dias depois).

No pronto-socorro, o médico, sem nem me examinar direito, disse que era alergia ao esmalte.

- Como assim alergia ao esmalte? Faz mais ou menos uns dez anos que eu faço as unhas sempre, e continuo usando as mesmas marcas de esmalte, não é possivel!”

- E possivel, sim. Uma alergia pode se manifestar a qualquer momento.

“Ok, então isso que é envelhecer?”, pensei comigo mesma. “Um monte de coisas que você nunca teve começam a aparecer do nada?”

Enfim, o médico me receitou um anti-alérgico, uma pomada e mandou eu tirar o esmalte. Eu tomei o anti-alérgico (fiquei até grogue), passei a pomada, mas não tirei o esmalte. Poxa vida, tinha ido à manicure no dia anterior! Não era justo...

Dai que voltei para a França e as palpebras ainda inchadas... me disseram que eu estava com uma cara péssima no meu primeiro dia de trabalho em janeiro, mas eu também tinha a desculpa da viagem, do fuso-horario e tal...

Como agora eu ja tenho a tão sonhada carteirinha da Sécurité Sociale, pude ir ao médico. So que aqui, para que a sua consulta seja reembolsada pelo sistema publico, você não pode ir a um médico especialista (tipo um dermatologista, alergologista,...). Você precisa ir primeiro a um clinico geral e é ele quem te indica o especialista que você deve consultar, se for o caso. Inclusive, aqui, você precisa escolher um clinico geral para ser seu “médecin traitant”, ou seja, o seu médico de referência, aquele ao qual você vai sempre recorrer quando tiver um problema. E você precisa declarar para a Sécurité Sociale quem é o seu “médecin traitant”, senão você não é reembolsado.

Enfim, o fato é que eu obviamente não tinha um “médecin traitant”, então aproveitei a oportunidade do problema nas palpebras para ir me consultar com um clinico geral e ver se eu escolhia logo um “médecin traitant”.

Dai que uma colega brasileira me indicou um consultorio perto do meu trabalho e este consultorio, que não aceita mais novos pacientes, me indicou uma outra médica la perto também.
La fui eu, feliz e faceira, torcendo para gostar dela, porque assim mataria dois coelhos com uma cajadada so...

Tudo o que podia dar errado nesta consulta, deu. Para começar, marquei a consulta para às 8h30 da manhã. Mas a mulher so chegou às 8h50 e, visto que ela não tem secretaria, isto quer dizer que eu fiquei esperando por ela na rua, no frio de -3 ou -4°C, durante vinte interminaveis minutos.

Quando a infeliz finalmente chega, a gente começa a subir as escadas para o consultorio dela e, no meio das escadas, ela me pergunta: “Então, o que te traz aqui?”

Perai. Como é que é? Estou sonhando ou a médica vai querer que eu me consulte com ela no meio da escada???

Obviamente esperei chegarmos ao consultorio para começar a falar alguma coisa.

Alias, o consultorio... Como explicar? Parecia uma sala de escolinha pré-primaria, com cadeiras coloridas para tudo quando é lado, desenhos, fotos coladas na parede, livros espalhados pelo chão. Parecia tudo, menos o consultorio de um médico normal.

Ok, mas apesar de tudo isto, ja que ja tinha perdido meu tempo indo até la, ia tentar pelo menos matar um dos coelhos (digo, o problema das palpebras), ja que escolher esta maluca para ser minha “médecin traitant” é que eu não ia mesmo.

Dai eu começo a contar o problema para ela, que mal me examina e diagnostica uma alergia.

- Ok, mas alergia a que?

- Ah, pode ser tudo e qualquer coisa. (hum, que tradução mal feita do francês "tout et n'importe quoi")

- Hã???

- Pode ser um creme que você passa na pele, pode ser o sabonete, pode ser o shampoo, o sabão em po que você usa nas roupas, o amaciante, um perfume,...

- Ok, e o que eu faço? (crente que ela ia me mandar para um alergologista, para que eu pudesse fazer uns testes, digamos assim, mais precisos)

- Ah, você precisa ir eliminando todas estas coisas aos poucos para tentar descobrir o que causou a alergia.

Pode parar por ai. Então eu faço assim: paro o creme hidratante por uma semana e deixo todo o resto. Se não funcionar, eu volto com o creme, e mudo o sabonete. Se não funcionar, eu volto com o sabonete e paro o shampoo e assim sucessivamente? Ou eu paro tudo de uma vez, viro uma porquinha que não passa sabonete, não lava o cabelo e não lava as roupas? Pode ser que funcione para a alergia, mas 1°) nunca vou saber o que causou a alergia e 2°) vou afastar todas as pessoas do meu convivio social.

Além disso, a consulta, que durou no maximo uns 7 minutos, foi interrompida umas 4 vezes pela campainha que tocava (e a médica ia atender). O pior não era ela sair da sala para atender a porta. O pior era escuta-la dizendo aos outros pacientes: espera um minutinho so, ja vou te atender, a consulta que eu estou fazendo é rapida (tipo assim, ela estava pouco se lichando para o meu problema).

Gente, tenho ou não tenho razão de ter achado a mulher uma doida varrida? Ou sera que ja fui contaminada pela mania nacional francesa (reclamar de tudo sempre)? Não, desta vez acho que fico com a primeira opção...

(Continua no proximo post...)

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