domingo, 17 de maio de 2009

Corujice II

Estas cenas dos meus priminhos Clarice e Caca eu mesma presenciei:

Cena 1

Fim do ano. A familia toda passou o Natal e mais alguns dias em um hotel em Aguas de Lindoia. Almoçavamos e jantavamos no restaurante do hotel e a Clarice e o Cacá, inseparaveis que são, sempre sentavam juntos. Um dia, não lembro exatamente porquê, cada um acabou sentando numa ponta da mesa. E a Clarice, que estava ao meu lado, gritava assim para o Cacá :

- Cacá, eu tô de olho em você, ta? Não se preocupa não, tô te vendo, ta?

E, virando para mim, do alto dos seus quase quatro anos de experiência, diz assim: é que eu tenho que avisar o Cacá que estou olhando para ele, senão ele fica preocupado, né?

Cena 2

No meu bota-fora do Brasil, num restaurante. A Clarice tinha passado batom e, por isso, nem mexia a boquinha, ficou com um sorrisinho meio forçado o tempo inteiro, de tanto medo que o batom saisse.

Dai que tinha um grupo tocando samba e uma hora a gente estava perto deles. A Clarice, de pé, começou a dançar. E a rodar, e rodar, e rodar, e rodar sem parar.

Minha tia (sua avo) e eu tentando convencê-la a parar de rodar:

- Clarice, para de rodar porque você vai se sentir mal.

Nada!

- Clarice, para de rodar porque você acabou de comer.

Necas de pitibiribas.

- Clarice, se você não parar de rodar, você vai vomitar.

Nem te ligo!

Até que sua avo usa um argumento imbativel:

- Clarice, se você não parar de rodar, seu batom vai sair todinho.

Rá. Clarice parou na hora. Sabedoria de avo é uma coisa…

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Corujice

Para quem não sabe, tenho dois primos, a Renata e o Silvinho. Quer dizer, pela parte da familia da minha mãe. Mas é o que conta, na verdade, porque nem tenho contato com a familia do meu pai e até perdi a conta de quantos primos eu tenho por la (é uma parte da familia que se reproduz como coelhos, dificil de acompanhar!).

Pois bem, um dia a Renata e o Silvinho cresceram. Sim, ja faz tempo, porque eles são muuuuuito mais velhos do que eu (ai, eles vão me matar!), respectivamente 9 e 7 anos.

E eles casaram.

E dai que, quatro anos atras, eu, com 25 anos, deixei de ser a caçula da familia. Porque chegou minha primeira priminha de segundo grau, a Clarice, filha da Renata.

Mas eu nem liguei de ter deixado de ser a caçula, porque so vendo a Clarice para entender a alegria e luz que ela trouxe para a familia. Uma fofa. A criança mais linda do mundo. Mas vou parar por aqui porque ta ficando muito “prima coruja” este paragrafo.

Cinco meses depois chegou o Carlinhos, Cacá, filho do Silvinho. Ou seja, Clarice e Cacá cresceram ( e continuam crescendo) juntos.

E no fim de 2007 chegou a Helena, irmãzinha da Clarice.

Recapitulando : Clarice tem hoje 4 anos, Cacá tem 3,5 anos e Helena quase 1,5 ano.

A Clarice e o Cacá ja falam de tudo e rendem momentos muito engraçados. Outro dia a Renata me enviou um e-mail com uma compilação do que esta criançada anda aprontando. Vejam se não é para morrer de orgulho (e de rir também ?).

PS : o texto inteiro é da Renata (obrigada, Rê !).

Claricianas, Helenísticas e Cacazianas:

Depois que voltamos a São Paulo, uma coisa tem intrigado Clarice. Trata-se dos carros sem motorista, com pessoas "muito invisíveis", segundo ela. Tentando entender do que ela falava, levantei a hipótese de que fossem carros dirigidos por pessoas baixinhas que nem eu, por exemplo. Daí não dá para enxergar o/a motorista e parece que ele/a é invisível etc. Decididamente, não era isso. Procurei acompanhar o olhar da pequena e entender quando ela nomeava o carro como sendo aquele conduzido por invisíveis seres. E então entendi e fiquei surpresa com o que vi: trata-se dos veículos com os vidros escurecidos para que não vejamos que os conduz. E são tantos que parece que andamos num trânsito de fantasmas, máquinas auto-condutoras no asfalto sem-fim. Quando entendi, meti-me a explicar o motivo pelo qual as pessoas fazem isso, mas, é claro, isso é coisa difícil de entender. Ela, espertinha, perguntou: por que o nosso carro não é assim? Mais difícil ainda de entender isso, Clarice, essa teimosia em não aceitar determinadas coisas dessa realidade inóspita. Disse que gosto da luz, da claridade, de ver as pessoas... Mas onde estão elas mesmo?

Clarice puxou a sei-lá-quem da família e deu para exagerar. Agora, quando uma coisa é "muito", ela diz: "muito muito muito muito muito muito muito, sem parar e sem cansar". Ou "cansando e mesmo assim não parando nunca".

Helena está terrível. Toda prosa e autônoma, agora só quer saber de andar pra cá e pra lá, subir no sofá, tentar descer sozinha e aprontar com a irmã. As duas se comunicam muito bem: Clarice pega o rodo que não pode e Helena traz o pano de chão que não pode também. Duas criaturas.

Helena parece o pai: pega o bloquinho 1, encaixa devagar no 2, tira e encaixa de novo, fica observando, parece que está fazendo pesquisa. É tão inteligente que dá até medo (nesse sentido, parece com a mãe, claro)! Já vai ter que sair do berço (com 1 ano!) porque está empenhada em sair sozinha dele. Lelê foi para o maternal! Nem nasceu ainda e já foi para o berçário! Na próxima encaranação mato a saudade que já está dando de ter bebê em casa.

Educação Sexual

Clarice falando para o amado primo Carlinhos: "Cacá, nós vamos nos casar. Mas não se preocupe, vai ser só quando a gente for adulto".

Clarice penteia o cabelo e mostra para o primo: "olha, Cacá, meu cabelo". Cacá, como moleque que é, nem liga. Clarice diz: "Cacá, deixa eu te explicar: quando eu mostrar meu cabelo lindo para você, você tem que dizer 'olha, que cabelo lindo, Clarice!'". E foi assim com a calcinha linda, a fivela... Ai, se esse danadinho aprende essas lições da primeira infância!

Mas Cacá tem suas próprias estratégias. Brincando de bicicleta com o pai, avista duas adolescentes e diz que quer dar um beijo nelas. O pai explica que ele deve chegar perto delas, perguntar seus nomes, se apresentar, enfim, entabular um papo e depois pedir um beijo... Carlinhos chega até elas, depois de fazer gracinhas com a bicicleta e diz: "Oi, meu nome é Carlos. E o seu?". A menina nem acabou de responder, ele lança: "Me dá um beijo?". Direto e reto.

Cacá e Clarice dizem um para o outro: "vamos brincar de médico!?". Depois que o pai quase desmaia, os dois saem carregando o "paciente-cãozinho-de-pelúcia" nos braços para fazer o exame.

A difícil arte de construir a fraternidade

Helena se joga no chão de teimosia. Uma hora, fico irritada, perco a paciência e digo: "então, fica aí no chão e chora à vontade"! Clarice, consternada e indignada, levanta a irmã e me diz: "não pode falar assim com ela, ela é pequena, não entende! Ela é muito delicada! Vem, Lelê!". (!)

Ponto de vista da Helena: O que é a coisa mais linda e fantástica e interessante do universo? Resposta: qualquer coisa que estiver na mão da Clarice ou que a irmã estiver olhando ou pensando.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Briga de casal

Ela agitada, pensando mil coisas, tentando imaginar como vai fazer tudo o que tem que ser feito, planejando como melhor organizar o seu tempo para dar conta de tudo.

Ele, cansado, quietinho, de canto, observa-a.

Ela nao para, não pode parar, não tem tempo para parar.

Parar... é tudo o que ele deseja que ela faça. Ele so quer que ela pare um pouco e lhe dê mais atenção.

Ela diz:

- Meu Deus, tenho tanta coisa para fazer! Tanto trabalho e coisa para pensar, tanto problema para resolver...

Ele responde:

- Calma, meu bem. Fica tranquila, você vai dar conta de tudo, so precisa desacelerar um pouco...

- Desacelerar? Você ta louco? Neste ritmo ja não estou dando conta de tudo, imagina se posso desacelerar... Não, não, eu tenho mais é que trabalhar mais, dormir menos, enfim, trabalhar até durante o sono, se possivel!

- Querida, você esta muito preocupada, mas isto não é bom... Se não der para cuidar de tudo, prioriza, mas o que não da é para você continuar assim, de um lado para o outro, sem parar, pensando mil coisas ao mesmo tempo... Assim você esta me deixando cansado...

- Ahaha, esta é boa, eu estou te deixando cansado... Deixa de ser mole, você tem que acompanhar o meu ritmo, oras!

- Não da, uma hora você vai ter que parar um pouco, deste jeito não da! Ou você para por bem, ou para por mal!

- O que? Esqueceu que sou eu quem te controla?

- Não controla não.

- Controlo sim.

- Deixa de ser cabeça-dura! Você fica ai, dando uma de teimosa e espertinha, mas quer ver como eu te faço parar de trabalhar à força?

- Hã?

...
...
...

Ela, na verdade, é a minha cabeça. Ele, o meu corpo. E o dialogo acima é o debate que eles têm travado ultimamente.

E esta é a unica explicação que eu encontrei para o fato de estar gripada novamente.